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Setembro é o mês de uma campanha pouco divulgada, o setembro amarelo, que trata da prevenção ao suicídio. Esta campanha idealizada pelo CVV, Centro de Valorização da Vida, enfrenta resistências tanto pessoais quanto institucionais, pois o suicídio é um tema tabu, o que causa dificuldades em entender as motivações e outros fatores para uma campanha de prevenção com o objetivo de evitar este ato de renegar a própria vida, muitas vezes para por fim a um sofrimento, a uma angustia insuportável, ato que gera dor e sofrimento aos parentes, pessoas queridas e colegas de trabalho que não puderam ajudar ou impedir este ato radical: o auto extermínio.
Segundo os dados do CVV são 32 brasileiros mortos por dia, taxa superior às vítimas da AIDS e da maioria dos tipos de câncer.
“Foi necessário o esforço coletivo, liderado por pessoas corajosas e organizações engajadas, para quebrar esses tabus, falando sobre o assunto, esclarecendo, conscientizando e estimulando a prevenção para reverter esse cenário.”
Iniciado no Brasil pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina)e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), o Setembro Amarelo realizou as primeiras atividades em 2014 concentradas em Brasília. Em 2015 já conseguiu uma maior exposição com ações em todas as regiões do país. Mundialmente, o IASP – Associação Internacional para Prevenção do Suicídio estimula a divulgação da causa, vinculado ao dia no qual se comemora o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Em Belo Horizonte, no dia 10 de setembro de 2017, houve uma caminhada na Praça da Liberdade reforçando a importância de discutir o tema.
O editor-chefe do Diário Gaúcho, Carlos Etchichury, lembrou que mil pessoas morrem no estado todos os anos por suicídio. Para ele, entre abordar mal o assunto e o silêncio, é preferível o segundo caminho, pois o tema exige responsabilidade e respeito. “O limite é sempre esse. Falar com respeito, evitar expor as pessoas, a família”, destacou.
Suicídio e sua relação com o trabalho: extratos do livro “Do Assédio Moral, a morte em Si – Significados sociais do suicídio no trabalho:
“A relação entre suicídio e trabalho, é um dos relevantes temas da atualidade, apesar de pouco discutido e reconhecido entre diferentes esferas do saber e das praticas sociais.”
Por isso, analisar a morte em si e seu nexo com o trabalho, entre outros fenômenos relacionados às agruras vividas pelos trabalhadores, significa aprender importantes aspectos das múltiplas determinações relacionadas às motivações do suicídio. Busca-se assim superar a visão de que essa forma de morrer é consequência imediata de transtornos mentais, da baixa resiliência ou de visões moralistas e cheias de julgamentos de valor. A forma de inserção do trabalhador no mundo do trabalho e das relações de sujeição que se estabelecem, explicitam as próprias formas de organização e apropriação do trabalho e que se caracterizam por um lado, com os novos modos de produção dos meios de vida nas mãos de poucos e por outro lado, na degradação da existência da classe trabalhadora.
Desse modo, a relação entre suicídio e trabalho é um processo sócio histórico cuja gênese esta assentada nas causas econômicas e políticas, manifestando se no experenciado enquanto necessidade do eu, submetido aos sofrimentos e às dores físicas e subjetivas. Portanto, o suicídio é uma denúncia do vivido e da violência sofrida.”
Segundo a doutora Margarida Barreto e Selma Venco, o trabalho enquanto atividade humana dá sentido à vida, fortalecendo a identidade e dignidade do trabalhador, conquanto que haja liberdade, respeito ao outro, justiça, respostas solidárias entre e no coletivo de trabalhadores. Caso contrário pode se tornar causa de dor, sofrimento imposto, doenças, acidentes e morte por suicídio.
Sem o sentido que dá significado ao trabalho, a vítima busca soluções equivocadas e como não há respostas, a vítima pode ser violenta com outra pessoa ou consigo mesmo, uma das razões do suicídio. É o auge de um processo, introjetado, extremamente violento contra o sujeito, o cidadão, o trabalhador, que não pode mais “suportar o insuportável”.
O professor doutor Roberto Heloani afirma: “Inúmeros são os fatores que contribuem para o aumento e tentativas de suicídios, assim como a esquizofrenia, o alcoolismo, a dependência de drogas o transtorno de personalidade, que de forma implícita ou explicita relacionam-se com a depressão, a qual parece exercer um papel central no problema. Os sentimentos de culpa e desespero que acometem o depressivo podem leva-lo a crer que de fato merece morrer ou então que é preferível morrer a ter que viver como vive. É consideravelmente difícil estabelecer a relação precisa entre depressão e suicídio, porém num estudo envolvendo 134 suicídios foi constatado que 94% dessas pessoas tinham estado sob tratamento psiquiátrico antes do ato suicida e que 45% encontravam-se deprimidos (Mendels, 1972).”
“O que é desprezado, ou melhor, omitido de forma sistemática e curiosa pelos estudiosos do tema do suicídio, é a forte relação entre este fenômeno e aquilo que na sociedade moderna é fator estruturante de nossa identidade pessoal e profissional, ou seja, o trabalho.”
Explicando melhor: relacionarmos o suicídio à depressão é correto e tal assertiva é escoltada por robusta empiria. É inegável. Parece-nos estranho, é que o trabalho – gerador de tanto sofrimento, angústia e depressão – não seja mencionado, na maior parte das pesquisas, dos estudos, congressos e simpósios e seminários que tratam do suicídio.”
O pesquisador Christopher Dejours afirma que os suicídios no trabalho seriam associados às transformações da organização do trabalho, que conduzem a uma degradação do “viver juntos” nas organizações, em particular a individualização da avaliação de desempenho e a falta de reconhecimento (Dejours 2009).
*O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email, chat e voip 24 horas todos os dias. Basta entrar em contato pelo número 141, ou pelo site www.cvv.org.br