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Crianças ficando com feições esqueléticas, morrendo de fome. Outras desesperadas, após ficarem amputadas, sem anestesia, sem ter aonde ir, sem ter mais seus pais para consolá-las, que pedem para morrer. Elas são as que ainda não foram assassinadas. Vinte cinco mil mulheres e crianças já foram assassinadas de forma cruel. Os que ainda vivem, estão cercados, sem acesso a comida, a água, a atendimento médico.
Por trás de Israel, o respaldo dos EUA, até onde vai a disputa do mundo?
A imprensa olha para quem denuncia a desumanidade, para a exceção de um líder que em um determinado momento prefere demonstrar sua sensibilidade a fazer cálculos geopolíticos. Gustavo Petras, da Colômbia, vai além de Lula, e com coragem disse que o mundo deve bloquear Israel. Tem razão, por coerência, se os métodos são comparáveis aos do nazismo, não podemos continuar nos relacionando com eles.
Ontem, imagens aéreas mostraram seres humanos, pessoas com suas dores, seus pensamentos, suas identidades e crenças, suas histórias, desesperos, como pontinhos pretos em movimento. Era a corrida de irmãos esfomeados que eram abatidos cruelmente por covardes armados. Mais de cem pessoas assassinadas. Para quem se dá o direito, ainda, de ter sensibilidade, e sabe que a frieza total é fraqueza – não força -, são imagens chocantes. Mas foram 112 contabilizados nesse episódio, 6.403 entre 2008 e agosto de 2023, mais de 25 mil mulheres e crianças de setembro último pra cá.
De cima, mostrar pessoas como pontinhos é a desumanização, arma de guerra que com técnicas de propaganda mostra povos como inferiores. De ratos, foram chamados os palestinos por um ministro israelense, mesma analogia usada pelos nazistas contra os judeus. Na cabeça do povo brasileiro, há séculos que a desumanização tem sido utilizada para nossos genocídio tupiniquins, que o Lula esqueceu de falar, o dos que vieram da Africa e seus descendentes, e o dos indígenas.
Por outro lado, nos acostumaram a ver a imagem de homens fortes, fardados e armados associadas à ideia de coragem. Quando, na verdade, no combate a civis desarmados, esse é o mais repugnante retrato da covardia.
Me pergunto, como se manifestava a imprensa brasileira na época do nazismo. Será que havia pessoas que achavam que dirigentes políticos ou sindicais deveriam silenciar perante o absurdo? Será que havia quem dizia que o combate ao nazismo era coisa de partidos e ideologias?
Na década de 30, Rio de Janeiro tinha a sala de cinema Broadway, para exibir filmes do III Reich. O rádio recém estava dando seus primeiros passos, mas quatorze emissoras eram subvencionadas, no país, pelo governo alemão. A revista Observatório da Imprensa revela que, na então capital, a Rádio Ipanema era totalmente subvencionada pela embaixada alemã, as rádios Tamoyos, Mundial e Central do Brasil recebiam secretamente fundos do Ministério de Propaganda e da Gestapo, que iam também para o bolso de seus secretários e diretores. O vespertino Meio-Dia tornou-se um entusiasmado propagandista de Hitler e de seu regime.
Quase um século depois, vemos a televisão brasileira controlada por uma rede que surgiu com capital do grupo estado-unidense Time-Life e por instituições religiosas. Silenciar perante a barbárie é uma postura partidária. Partidária da morte, dos mesmos métodos utilizados pelo nazismo. Entre a crueldade e a defesa da humanidade, entre a colonização imperialista e a sobrevivência dos povos, entre o silêncio e a revolta, não há neutralidade possível.