Por Mônica Coimbra, servidora do TRT. Originalmente publicado na revista do TRT da 3ª Região
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Como diz o escritor, jornalista e historiador americano Edmund Wilson: “duas pessoas nunca leem o mesmo livro”, e essa é a minha perspectiva realista do movimento paredista dos servidores do PJU em 2015. Se eu fosse essencialmente pessimista (o que não sou), diria que o movimento foi mal sucedido. Permanecemos mais de 100 dias em greve, fizemos inúmeros atos na capital e no interior de Minas; subimos e descemos as escadas dos prédios da Justiça do Trabalho em arrastões de convencimento diários, gastamos nossa sola de sapato, nossa voz, até nosso tempo de repouso. Houve uma AGE nas portas da Mato Grosso com mais de 900 servidores, sendo cerca de 600 da Justiça do Trabalho; lotamos os gramados do Congresso Nacional; enfrentamos incontáveis vezes as 13 horas de viagem de ônibus que separam as Minas Gerais da capital federal. Acumulamos horas de serviço e trabalho a ser compensado.
O pessimista diria: “o copo está muito vazio, fomos derrotados”.
Se eu fosse essencialmente otimista (o que, também, não sou), diria que foi um sucesso: porque, certamente, o governo federal percebe a organização e a força do movimento, que vai além do conceito de paredista, tornou-se um movimento em movimento que mostrou disposição e capacidade de mobilização nunca vistos.
Contudo, sou uma otimista realista. É lamentável que o governo argumente que recompor as perdas salariais de trabalhadores, que somam quase uma década de arrocho, irá prejudicar o orçamento de uma nação tão rica, mas tão assolada pela corrupção. O que se lamenta de copo vazio, todavia, também se pode comemorar de copo cheio.
Entramos nesse movimento em movimento como indivíduos, servidores da Justiça do Trabalho que descemos de nossos setores de trabalho, com dificuldade, para conversar, para trocar impressões, para pensar se era hora de reivindicar ativamente nossa recomposição salarial. Saímos para a calçada dos prédios sozinhos, sem muita certeza, alguns de nós com muita resistência, com conceitos e preconceitos sobre a utilidade de um movimento paredista. Nos identificávamos com nosso nome, nosso cargo, nosso setor. Terminamos (ou não) esse movimento como categoria, servidores do Poder Judiciário da União que aderiram ao maior movimento de reivindicação da história do PJU com disposição para discutir o futuro da nossa carreira. Saímos do nosso estado e fomos à Brasília com a certeza de que o que importava era demonstrar a nossa situação sem receios, em ato de coragem. Passamos a nos identificar como mineiros, como filiados a nossa entidade sindical, como integrantes de uma categoria de trabalhadores de 150.000 pessoas.
E eu penso, do alto de meu realismo otimista, que isso é muita coisa. Isso é mais do que tivemos ao longo desses nove anos de perdas inflacionárias acumuladas, porque as questões do trabalhador da Justiça do Trabalho vão muito além do que nossa real necessidade de reposição salarial.
Quando nos identificamos como categoria, e não como servidores isolados, entendemos que é importante oxigenar nosso pensamento e conduta; conviver; adotar boas práticas de outros colegas; nos fortalecer como equipe sem competição desnecessária entre os que detêm CJs, os que detêm funções e os que não as detêm. Precisamos debater e resolver a questão do assédio moral dentro da Justiça do Trabalho. Precisamos debater e desenvolver nossa atenção à necessidade de repouso semanal remunerado (muitas vezes não usufruído) e pausas legais durante o trabalho.
Enfim, se você, colega, está aí pensando no seu copo meio vazio, pense no copo da categoria que te abriga, porque esse copo nunca esteve tão cheio antes, e é a partir desse ponto que juntos vamos construir as estratégias de valorização da nossa carreira.