O Painel de Análise de Conjuntura, primeira atividade prevista para o dia 4 de maio, dia de abertura da XVII Plenária Nacional da Fenajufe, em São Luís, no Maranhão, chamou a atenção dos presentes para a necessidade de fortalecer os movimentos trabalhadores para impedir que a crise que hoje assola a Europa chegue aqui com a mesma intensidade e, pior, com a conivência e apoio do governo federal, que busca exatamente isso: desmobilizar os movimentos sociais e arrochar os servidores públicos em seus salários e direitos. Compondo a mesa, os coordenadores da Fenajufe Jean Loiola, Iracema Pompermayer e Valter Nogueira; e o representante do Sindicato dos servidores do Judiciário Federal na Paraíba, Marcos Antônio.
Vera Miranda, engenheira, especialista em Gestão Pública e ex-dirigente da Fasubra Sindical, primeira a se pronunciar, fez um panorama do que ocorre hoje na Europa no que tange aos trabalhadores e alertou: “os trabalhadores precisam ir para cima, senão amanhã as reformas feitas na Europa estarão aqui [no Brasil] com igual ou maior intensidade”. Vera também destacou que, desde o governo anterior, a União tem falhado com o setor público e que, quando se fala em melhorias nesta área, o que ela classificou como “grandes poderes” (mídia e empresariado, especialmente) recuam em apoiar.
“Precisamos debater projetos de estado e não só combater estruturas que nos prejudicam , mas também sugerir novos formatos”, opinou a palestrante, que acredita que os trabalhadores devem sair da Plenária com plataformas claras de luta, plataformas que garantam elementos caros à categoria, como o direito de greve e a negociação entre governo e categoria. Ao concluir, Vera Miranda reforçou que “a crise do capital não é nossa [servidores públicos] crise, nós não temos que pagar a conta dela”.
Na palestra seguinte, o professor universitário Daniel Romero, também formador do Instituto Latinoamericano de Estudos Socioeconômicos, abriu sua fala afirmando que “estamos vivendo as mais importantes transformações desde a queda do Muro de Berlim [1989]”. Ele também acredita que vale a pena compreender cada uma das lutas que acontecem ao redor do mundo, pois elas impactam não só os trabalhadores daquela região, mas sim os do mundo inteiro.
“A crise não acabou, mas também não é a mesma de 2008”, disse o professor, antes de contar em detalhes como está a situação na Grécia, que ele afirmou ser um país modelo para a administração da crise, no sentido de que, “se a crise piorar, façam como foi feito na Grécia”, alertou. Romero também criticou a impressão de que a distribuição de renda no Brasil melhorou. De acordo com ele, o movimento do governo de tirar dinheiro dos trabalhadores, ao invés de tirar dos lucros do capital para redistribuir, é errado. Concluindo, Daniel Romero disse o que todos os servidores já perceberam e com o que padecem há tempos: “para os servidores públicos federais, o governo Dilma é o principal inimigo”.
O representante da CUT, Pedro Armengol, também não poupou críticas à atuação do governo federal contra os trabalhadores – especialmente porque, em sua opinião, tudo que o governo federal faz de negativo, é, na maioria das vezes, replicado automaticamente nos estados. Essa atuação negativa reforça a tese do palestrante de que a crise “já atravessou o mar” e se instalou no Brasil. “A prioridade do governo definitivamente não são os servidores púbicos”, lamentou.
A União está cerceando todas as possibilidades dos trabalhadores do setor público de reivindicarem seus direitos. Pedro Armengol aponta a judicialização das greves e a criminalização dos movimentos sociais como marcas dessa tendência. “Acabaram com os setores do governo que dialogavam com os trabalhadores. Tudo agora é feito numa área técnica do Ministério do Planejamento, que não dialoga”, explicou.
Janaina Rochido – de São Luís, MA
