O jornal O Estado de São Paulo publicou ontem editorial espinafrando os servidores públicos. Segundo a publicação da abonada família Mesquita, já se esperava a reação dos sindicatos de servidores públicos federais à medida provisória do governo Temer (MP 805) que determinou o adiamento de reajustes de algumas categorias do Executivo – de 2018 para 2019 – e o aumento da contribuição previdenciária – de 11% para 14% – para servidores que recebem além do teto do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A partir desse pressuposto, lança todo tipo de impropérios contra os SPFs.
Para o Estadão, os servidores vivem em uma espécie de “universo paralelo”, imaginando que os recursos que garantem seus salários são infinitos, e estão pouco se lixando para a realidade do país. “Tem-se, portanto, uma situação em que as exigências de servidores indiferentes ao estado das contas públicas encontram políticos e autoridades sem disposição para enfrentá-los. Ao contrário: em muitos casos, o que se tem é o casamento perfeito entre um funcionalismo muito bem articulado em torno de seus interesses privados e dirigentes interessados em ter o apoio desses servidores para controlar a máquina pública. É a união da fome com a vontade de comer, ao arrepio da Lei de Responsabilidade Fiscal”, reforça o editorial, acrescentando argumentos da equipe do governo em defesa de mais uma imposição aos servidores e ao serviço público em nome da crise, frisando afirmação do ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, de que a média salarial do funcionalismo seria de R$ 13 mil e concluindo que “o grande trunfo dos sindicalistas é, como sempre, a indisposição de parte da base aliada no Congresso de trabalhar em favor dos interesses gerais do País, o que a obrigaria a encarar o barulhento lobby dos servidores”.
Falar mal dos servidores e do serviço público não é novidade no Estadão, nem na Folha de São Paulo, O Globo, Rede Globo, Época, IstoÉ, Veja, Estado de Minas, CBN, SBT, Bandeirantes, O Tempo e assemelhados. Aliás, esses veículos, que conhecemos como “grande imprensa”, nada se importam com o serviço público, tampouco com qualquer trabalhador, incluindo os da iniciativa privada. A própria rádio Itatiaia, em reportagem especial desta semana sobre desempregados à procura de colocação no mercado de trabalho, mas tendo como centro a vigência da nova lei trabalhista a partir do próximo sábado (11), enaltece de forma descarada a reforma trabalhista sancionada por Temer, ouvindo somente opiniões a ela favoráveis. O que esses veículos querem, mesmo, é bajular a iniciativa privada, os grandes detentores do capital, do sistema financeiro, dos meios de produção.
Mas, voltemos ao editorial do Estadão, que nos atribui – a nós servidores e aos sindicatos que nos representam – um poder que jamais tivemos. Poder têm eles (os barões da mídia brasileira), que derrubam ou mantêm governos segundo seus interesses de ocasião, conforme a própria história prova sem irmos longe pesquisar. Se o tivéssemos, não teríamos perdido quase 60 direitos somente no governo Fernando Henrique Cardoso, não estaríamos vendo nossas possibilidades de nos aposentar cada dia mais distante e nossos salários cada vez mais defasados, graças a mudanças nas leis aprovadas pelos sucessivos governos, e jamais teríamos permitido que o Congresso Nacional aprovasse, somente no governo Temer, medidas que impactam de forma direta e abrupta as camadas menos abastadas da população e toda a classe trabalhadora tais como a Emenda 95 (congelamento de gastos públicos), as terceirizações, as reformas do ensino médio e trabalhista, nem nos sentiríamos ameaçados de passar por mais uma reforma da Previdência.
Por tudo isso, manifestamos aqui o nosso repúdio a todas as mal-intencionadas acusações que nos faz o Estadão. E, já que questão colocada é a contribuição de cada um com sua cota de sacrifício pela superação da chamada “crise”, o desafiamos, assim como os demais veículos midiáticos supracitados, a cobrarem mais austeridade do Palácio do Planalto em relação à distribuição de verbas publicitárias (entre eles próprios), para garantir essa pauta maldita e a sustentação de um governo mergulhado na corrupção; à cobrança aos maiores devedores do Imposto de Renda e da Previdência, que são exatamente as grandes empresas e também os maiores anunciantes da grande mídia e patrocinadores das mais absurdamente caras campanhas eleitorais; à realização de uma auditoria da dívida pública que transfere mais da metade do orçamento da União para os banqueiros; a não gastar absolutamente nada com os deputados e senadores da base governista para a aprovação de matérias legislativas, já que recebem altos salários para o mandato parlamentar; e à aprovação de nova política que democratize os meios de comunicação e de uma proposta de reforma tributária que reduza drasticamente a carga sobre o consumo e taxe, finalmente, as grandes fortunas desse país.
E ficam aí as dicas aos servidores para que assim respondam a tantas provocações.