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Segundo notícia publicada na BBC, em 12 de setembro de 2014, após pesquisas realizadas por técnicos a Organização das Nações Unidas concluiu que o Brasil vive um “mito de democracia racial”, que há “um racismo institucionalizado”; uma “ideologia de embranquecimento” na sociedade brasileira e que boa parte dela nega a existência desse problema social.
E diz mais, que o racismo permeia todas as áreas da vida, a demonstrar o abismo social entre negros e brancos.
Pois bem, entende-se o racismo como uma ideologia ou teoria que atribui as características intelectuais, culturais e de personalidade do ser humano ao seu biótipo, sua origem ou a sua cor. Por esse critério muitas pessoas acreditam na supremacia de uma raça, que considera superior.
Já a discriminação racial, nos termos da lei, é “qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência, em qualquer área da vida pública ou privada, cujo propósito ou efeito seja anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em condições de igualdade, de um ou mais direitos humanos e liberdades fundamentais consagrados nos instrumentos internacionais aplicáveis aos Estados Partes”(artigo 1º da Convenção Interamericana Contra o Racismo, a Discriminação racial e formas correlatas de intolerância.
No Brasil, em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, contudo, após a comemoração que teria durado cerca de 03 dias, os ex-donos de escravos reuniram todos os negros e mandaram embora, sem-terra, sem comida, sem dinheiro, sem sapatos, vestidos em roupas velhas de algodão grosso.
Iniciou-se a saga do negro brasileiro que se reflete em dias atuais, já que o maior contingente de pessoas em condições precárias de vida são os negros.
Assim, aqueles que também foram responsáveis pela construção do País ficaram à mercê de sua própria sorte e como diz o ditado popular “sem eira e nem beira”.
Além do abandono e de toda ordem de abusos no Brasil passou-se adotar uma política de embranqueamento, que tinha dentre seus defensores no início século XX João Baptista de Lacerda, que pregava a ideia de que deveria ser acolhido o maior número possível de imigrantes europeus brancos para gerar brasileiros brancos, bem como deveria haver cruzamento entre brancos e negros para terem filhos mais claros, diminuindo-se os traços negroides e aumentando-se população branca (Saiba mais AQUI).
Essa tese repercutiu negativamente também na população negra que abandonando suas origens, sua história e sua cultura passou a acreditar que precisava ser branco ou pelo menos de “alma branco” para ser acolhida na sociedade. E assim, parte dos negros também se tornaram racistas.
Ressalte-se que no Brasil não existe uma segregação formal, todavia é patente a segregação material evidenciada pelo abismo social entre brancos e negros.
Além da precariedade que assola as comunidades negras, essa realidade é ainda mais nociva em razão da institucionalização de uma filosofia de que o negro é um ser incapaz e que serve apenas para servir aos brancos, o que se reflete na própria postura de muitos negros, que passivamente toleram atos agressivos a sua dignidade.
Não bastasse, para que o negro fosse aceito em determinado grupo social era preciso que aceitasse todas as provocações racistas, e ainda ser um serviente, negando-se a si mesmo.
A passividade do negro em não reclamar seus direitos deu ao Brasil título de Pais com democracia racial, traduzindo a ideia de que não há racismo ou discriminação racial, o que não deixa de ser uma falácia, já que a realidade estar a demonstrar que o negro brasileiro não tem o mesmo tratamento que o branco.
Com efeito, a realidade discriminatória é demonstrada por dados estatísticos, em que se registra a diferenciação material entre negros e brancos.
Cumpre frisar, que o índice de analfabetos no seio da população negra é o dobro em comparação à população branca. Também é constatado que as maiores vítimas de violência são os negros, principalmente na infância quando o racismo causa consequenciais mais graves ao ser humano.
Aliado a isso, a discriminação no ambiente laboral não se limita apenas aos salários, mas a todo conjunto ambiental trabalhista já que as maiores vítimas de assédio moral (Saiba mais AQUI), e os que ganham os menores salários são negros (saiba mais AQUI).
Como se não bastasse, os negros, via de regra, trabalham nas funções menos significativas. E aqui, cumpre frisar, que quando o negro é um servidor público a ele são atribuídas as atividades consideradas menos importantes, independentemente de sua qualificação.
Segundo dados divulgados em 18.11.2016 no site Portal da Propaganda do IBGE, “82,6% dos negros afirmam que a cor da pele influência nas oportunidades de trabalho. Uma realidade que se confirma em outros números: profissionais negros ganham em média 36% menos que os brancos, ocupam apenas 18% dos cargos de elite e são 60,6% dos desempregados. Entre os muitos fatores que mais contribuem para essas estatísticas, está o Racismo Institucional, problema que se manifesta quando instituições públicas ou privadas atuam de forma diferenciada em relação a uma pessoa por conta da sua origem étnica, cor ou cultura, privando-a de oportunidades profissionais e sociais diariamente”.
Esses são dados alarmantes em um Pais que se considera não racista e que diuturnamente viola a dignidade do ser humano a jogar por terra um dos fundamentos da República.
Essa prática precisa acabar e não devemos aceitar, pois com disse Martin Luther King, o líder que lutou contra a segregação racial nos Estados Unidos na celebre frase “Quem aceita o mal sem protestar, coopera com ele”.