Leia, abaixo, o artigo redigido pelo filiado do SITRAEMG Luiz Fernando Rodrigues Gomes, lembrando que os artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade do autor, não sendo esta necessariamente a opinião da diretoria do SITRAEMG.
“Triste legado da Copa
Por Luiz Fernando Rodrigues Gomes, Técnico Judiciário do TRT/BH
Terminou a Copa do Mundo. Devemos, como cidadãos, refletir sobre o seu legado. Penso que o Brasil perdeu antes mesmo do início do evento, quando aceitou a intervenção da FIFA na soberania nacional, estabelecendo um autêntico “Estado de exceção”, com medidas como a proibição do livre comércio, inclusive de estabelecimentos já existentes, a uma distância de dois quilômetros em volta dos estádios, e a institucionalização do trabalho voluntário, com cerca de 33 mil pessoas trabalhando gratuitamente, exploradas e desprovias das condições determinadas em lei, tendo o governo federal aceitado as imposições da entidade mundial do futebol e editado a Lei 12.663/12, conhecida como Lei Geral da Copa.
Os bilhões de reais gastos com as obras – ainda não terminadas – não foram suficientes para resolver os problemas de mobilidade urbana nas cidades-sedes da Copa. Durante a execução das mesmas foram registradas oito mortes. Já os operários envolvidos nas obras específicas para o Mundial tiveram que promover mais 50 greves pela garantia de qualidade na alimentação fornecida, alojamentos adequados e pagamento de salários. Houve remoção de mais de 170 mil famílias nas cidades-sedes, com muitas das quais tendo até 1 hora para sair de suas casas. Pior é a indignação diante da construção de estádios – de Brasília, Natal e Manaus, por exemplo – que terão pouca ou nenhuma serventia para o povo brasileiro.
Boa parte das obras foi executada com dinheiro público, a partir de empréstimos concedidos pelo governo federal, via BNDES, Caixa Econômica e Banco do Brasil, a juros e prazos generosos, para ao final servir à iniciativa privada, já que os campos foram privatizados. E o que se sabe é que os lucros obtidos pela FIFA, ao alcançar a maior arrecadação de sua história, giram em torno de US$ 5 bilhões.
O governo fez mais: investiu R$ 2 bilhões em aparato repressivo, incluindo aí as Forças Armadas, não para proteger o cidadão da violência urbana, mas para impedir que cidadãos pudessem insurgir, democraticamente, contra realização da competição no Brasil. E, para coroar as perdas sofridas pela população, a 27ª Vara Criminal do Rio expediu 26 mandados de prisão temporária e dois de busca e apreensão de menores, sendo efetuadas 19 prisões – de pessoas suspeitas de praticar atos de vandalismo – somente durante os protestos de junho do ano passado.
Por todo o mundo, várias ONGs (Organizações Não Governamentais) repudiaram a ação cujo propósito foi o de reprimir e neutralizar aqueles que têm feito, da presença nas ruas, uma de suas formas de expressar e lutar por justiça social. A ação também mereceu nota da Anistia Internacional, que afirmou: “o fato é preocupante por parecer repetir um padrão de intimidação que já havia sido identificado pela organização antes do início do Mundial”. Também se manifestaram contrárias à ação a OAB e a CNBB.
Interessante observar que as ações policiais foram definidas pelas forças políticas compostas por governos no Rio, em São Paulo e e em Porto Alegre. Trata-se de uma política que criminaliza os movimentos sociais que, conscientes, avançam nas greves e manifestações, e que atendem aos interesses de grandes corporações.
Portanto, não nos iludamos: o saldo do Mundial é negativo dos pontos de vista, financeiro, político e social. Devemos, todos, exigir uma auditoria da Copa e a condenação de todos os responsáveis por eventuais desvios.”