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Talvez, o que de certo se tem em relação ao mal, o mais próximo, esteja na palavra de Baudelaire: a maior astúcia do diabo é convencer de que ele não existe. O despiste tem foro na sutileza. O mal é sutil. O mal é grande em pequenos gestos. O mal fere cirúrgico.
O que torna o humano o que é, é este convívio íntimo, discreto, filete d’água que alimenta grandes mananciais. Um agir pequeno, sutil, que em fissão espalha o acre de seus efeitos. Qual o tempero do mal? O que o alimenta? A cega astúcia, guardada no íntimo, estilada em gotas, mas veneno puro, que convence como inócuo, que existe, existe maior, mais grande. Está por aí, por aqui.
O mal, portanto, é vizinho, é próximo, é amigo. Amigo de olhares, de inveja, de discrimino, de egoísmo, de privilégio. O mal é confortável, é cômodo. Não se sai fácil de sua companhia, não o tira de dentro. Ele fica quieto, age quieto. Ele indaga o que se tem e o que se quer manter. Ele é vil. Sua pequenez é grande, muito grande. O mal não fica de tocaia, ele não espera, não surpreende. Ele apenas não vacila, se mostra solto e descarado. Ele não se esconde, não precisa. Ele fisga, ele fere. Diz: chegue para lá, o lugar tem um dono.
Não fique triste, não é para ficar triste. O mal acolhe suas dúvidas e as dilui no mar calmo de suas crenças. Não se é mal, o diabo existe. Convencer-se é a maior astúcia.
Lauro Higino – engenharia filosófica – servidor da Justiça Federal